Bom, já que este espaço tem funcionado em minha vida como uma válvula de escape hoje preciso dizer sobre um importante assunto. Tenho tido muita dificuldade em encontrar as pessoas queridas e que amo muito. Hora pelas responsabilidades do trabalho e da militância, outras pelas responsabilidades de ser mãe, dona de casa e outras por estar cansada mesmo. Mas enfim, hoje por motivos de saúde (pois é, fora todos os outros ainda me apareceu uma baita gripe acompanhada de uma faringite) não fiz uma passeio bacana com meu querido cumpadi. E mais uma vez a saudade foi acumulada.
Na tentativa de diminuir um pouco a danada da saudade pedi ao meu querido amigo, meu camarada e meu cumpadi, Fernando Garcia, a indicação de uma poesia. Queria ter nesse espaço um pouquinho dessa pessoa fantástica. O Fê é dono de uma inteligência, sensiblidade e sagacidade. Aff, admiro um monte... Tenho maior orgulho dele ser o padrinho da minha filha.
Buenas, pedi uma poesia e em três minutos ele me mandou 4, de autores diversos. Escolhi Fernando Pessoa. Ele disse que fiz um recorte temático, concordei!!! Odeio hipocrisia!!! É lamentável existir pessoas que dizem uma coisa, quando na verdade fazem outra. É a famosa história do macaco que "senta no rabo e olha o rabo dos outros".
Mas vamos à poesia indicada pelo Fê, de Fernando Pessoa em sua fase Álvaro de Campos:
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(POEMA EM LINHA RETA)
Como bem disse o Fê, quando soube que essa foi a poesia escolhida, mandemos a hipocrisia à PQP!!!